JM – Quem é Rogério Costa, quem é o homem para além da sua atividade politica?
RC – Sou filho de uma geração de gente sonhadora, sou filho dos anos 60, sonhei que o mundo ia mudar e tudo o que faço na vida, faço-o com muito amor. Sempre gostei de aceitar os desafios que a vida me foi colocando. Vim para Mafra fazer o serviço militar e apaixonei-me por esta terra, casei aqui, aqui fui pai. Estive sempre ligado ao associativismo, joguei futebol em Mafra, na Malveira, na Ericeira, fui presidente do Mafra, o estádio, por exemplo, foi feito quando eu era presidente. Fui um dos fundadores dos Amigos do Atletismo de Mafra, de resto continuo a fazer o meu jogging matinal. Ah e sou benfiquista ferrenho. Dizem que sou um bom prato e a verdade é que gosto muito de um bom petisco na companhia dos amigos. Em termos musicais sou fã da música Rock.
Profissionalmente, a minha carreira mais longa foi a trabalhar na banca, na Caixa Geral de Depósitos, tendo terminado como Director na Av, João XXI em Lisboa
JM – Aproveitando a sua experiência na área da banca e na CGD, como é que vê os últimos acontecimentos na área financeira?
RC – Sou muito crítico relativamente a tudo o que se está a viver na Caixa. Fui gerente da CGD em vários locais, inclusivamente aqui em Mafra, durante 5 anos, e foi um prazer enorme voltar á terra. A evolução do sistema bancário era só de fachada é o que se demonstra quando assistimos à falência de muitos bancos. A CGD é parte de uma estratégia de poder, o governo de Passos Coelho tudo fez para privatizar a Caixa. A Caixa sempre foi o “saco” que servia todos os governos. Havia até um pacto que fazia alternar a presidência da caixa entre PSD e PS, em função do partido que estava no governo.
JM – Quando e como é que se começa a dedicar à vida política?
RC – Foram os acontecimentos de Maio de 68 em Paris que marcaram o despertar da minha consciência política, mas também a guerra colonial, e as eleições de 72 com a CDE e a CEUD. Fiz parte de associações de estudantes e participei no 25 de Abril. Estava aqui em Mafra e uma semana antes fui para a Carregueira, de onde fomos ocupar a ex-Emissora Nacional. Fui, entretanto, conhecendo gente, como o Marques Júnior e o Correia Jesuíno, que me convidou para participar nas campanhas de dinamização cultural e de alfabetização. Aqueles foram tempos únicos, sendo certo que se fizeram demasiados atropelos em muitas coisas, mas a verdade é que antes de 74 todos vivíamos numa caixa tão apertada, que quando a tampa saltou, saltaram também coisas boas e menos boas. Trabalhei na Intersindical com o José Luís Judas e com o Carvalho da Silva. Aderi depois ao Partido Comunista
JM – O que é que o levou a abandonar o PCP?
RC – Em 2013 aceitei candidatar-me em Mafra pela CDU porque achei que Mafra merecia mais e porque senti que era importante determinar porque é que Mafra é governada ao longo de 35 anos, pela mesma força política, sendo que as forças da oposição pareciam ter metido a cabeça na areia. Quando me candidatei, e para que não houvesse confusão entre a politica e a minha atividade na CGD de Mafra, aceitei ir para Lisboa, alterando completamente a minha vida pessoal. Quero dizer que a minha vida tem sempre sido norteada por não me deixar condicionar por estranhos, por tomar as minhas próprias decisões. Foi por questões pessoais que deixei o lugar de vereador na Câmara de Mafra em representação da CDU. Nunca gostei de ser condicionado e tenho sempre lutado contra quem me tenta condicionar. O projecto da CDU é um projecto extremamente válido, eu não renego o projecto da CDU, o que eu não posso permitir é ser condicionado por pessoas ligadas à CDU. Para mim, o que conta é a população do concelho de Mafra e fazer politica a nível local tem de ser diferente de fazer política a nível central. Quem me elegeu foi a população do concelho de Mafra e é a essas pessoas que eu devo respeito. Havia discordâncias com a concelhia da CDU relativamente ao sentido de alguns votos, como foi o caso do PDM, um documento que considero avançado e importantíssimo para o desenvolvimento do concelho. Abstive-me na votação do PDM, contra a vontade da concelhia, que queria votar contra, como realmente fez em sessão da Assembleia Municipal. Sempre senti muita falta de apoio por parte da CDU Mafra, onde fui um franco atirador, como se costuma dizer. Finalmente, a redução do IMI foi sempre um dos meus cavalos de batalha enquanto vereador da CMM, ora, quando o presidente Hélder Silva tenta capitalizar para o PSD a redução da taxa do IMI proposta pelo governo, eu e Sérgio Santos (vereador do PS) pedimos uma suspensão da sessão para trocarmos impressões. Concluímos então que não podíamos votar contra a baixa para os 0,45, teríamos sim de vincar que os 0,45 eram fruto da decisão do governo e não do presidente da Câmara de Mafra, assim, embora votando a favor, como não podia deixar de ser. Isto nunca foi entendido pela CDU Mafra, onde achavam que eu tinha cozinhado uma declaração de voto com o PS. A forma como eles me pediram explicações foi inaceitável, e, portanto, eu disse chega, relativamente à forma de estar da força que então me apoiava. Continuo a ser exactamente a mesma pessoa, exactamente a defender os mesmos princípios, continuo a por Mafra e as pessoas de Mafra em primeiro lugar.
JM – Porque é que a esquerda tem tantas dificuldades em afirmar-se no concelho de Mafra?
RC – Essa poderá ser uma das razões por que eu apareço como cabeça de lista pelo Partido Socialista. Acho que é a altura de toda a esquerda do concelho de Mafra parar para pensar e perder o medo de fazer estalar o verniz. Porque é que pagamos o IMI na taxa máxima? É a água, é o IMI, são as portagens. Será que estamos condenados? Na esquerda, uns agarram-se a dogmas, sem que se perceba bem porquê, e outros, que têm tido sempre representação na câmara, como é o caso do PS, mas que, infelizmente, as pessoas que eles escolheram, possivelmente nem sempre foram as mais adequadas, porque nunca assumiram verdadeiramente posições de oposição ao PSD. Só aceitei ser cabeça de lista pelo PS porque quem está actualmente à frente do PS Mafra não tem nada a ver com as direcções anteriores, pois lutam, sabem o que querem e querem o melhor para a população do concelho. Nem sempre estamos de acordo e várias vezes nos afrontámos na câmara, mas o que é certo é que o concelho é governado por uma força política que está no poder há 40 anos, que se governaram e governam a valer, e há muita obra que tem de ser questionada. As obras feitas são as obras prioritárias para o concelho? Por exemplo, a A21, já alguém fez um estudo para saber quem beneficiou com a venda dos terrenos? Os terrenos foram adquiridos por uma empresa que os comprou sem que quem os vendeu soubesse que ali ia passar uma autoestrada, estando ainda hoje a correr processos judiciais a este respeito com pedidos de indeminização milionários, indeminizações, claro está, que não irão beneficiar os antigos agricultores que receberam meia dúzia de tostões pelos seus terrenos. Mas há mais, a Loja do Cidadão é um belo edifício, mas custou à Câmara 2 milhões de euros. Correram com os bombeiros do centro de Mafra, puseram-nos num local sem qualquer contacto com a população. E as instalações da Protecção Civil, que estão subutilizadas, nomeadamente com uma cozinha e um refeitório que, duvido já tenham acendido alguma vez o fogão? Quem é que pagou aquilo? Fomos todos nós.
JM – Que avaliação faz do actual mandato do PSD à frente da Câmara de Mafra?
RC – Quero dizer que tenho uma relação pessoal de amizade com Hélder Silva. Penso que talvez seja a sua formação militar que condiciona a sua forma política de estar. Politicamente, diria que é um pouco déspota, ou seja, é ele, e o resto é paisagem, bebeu também da forma de estar de Ministro dos Santos de quem foi vice-presidente, não se podendo, pois, dissociar de tudo o que de negativo se tem feito no concelho. Não duvido que Hélder Silva queira também o melhor para Mafra, só que não poe os interesses das pessoas de Mafra à frente do papel que ele pretende desempenhar na câmara. Para Hélder Silva o que está em primeiro lugar é o partido, isso verifica-se bem no facto de todas as instituições que mechem no concelho serem controladas pela câmara e ou pelo PSD. Associações, clubes, bandas e outras instituições são frequentemente controladas pelos boys do PSD Mafra. A própria Câmara de Mafra é uma máquina que está oleada, e muito bem controlada, onde a maior parte das pessoas têm forte ligação ao PSD. Eu, embora sendo vereador, nunca era convidado para os eventos organizados pela câmara, nem eu nem o partido socialista e pertencíamos todos, legitimamente, ao executivo municipal, mas eu ia sempre, e nesses eventos, pude ver que são sempre as mesmas pessoas, ligadas ao PSD, que são mobilizadas para os eventos e inaugurações, tratando-se muitas vezes, de eventos pouco divulgados, parecendo não estar a câmara muito interessada na participação das populações. Por exemplo, nas Assembleias Municipais, a única coisa verdadeiramente descentralizada é a sala, pois as pessoas são sempre as mesmas. Há que trazer as pessoas à participação na vida do concelho, sem as arregimentar e sem as explorar com impostos e preços exorbitantes da água, por exemplo. A câmara não tem uma máquina de fazer notas, quem está a pagar somos nós.
JM – O que é que espera da campanha das autárquicas de Outubro?
RC – Já fiz alguns contactos com a população em várias freguesias e estou muito contente com a receptividade que tenho observado. As pessoas do Partido Socialista que trabalham nesta eleição e aqueles que se vão a ela candidatar na lista que encabeço, deixam-me muito contente e muito confiante de que se pode mudar muita coisa. As pessoas terão de pensar um pouco e dizer, o PSD está no poder há 40 anos, mas vivemos num dos concelhos mais caros do país, é mais barato viver em Cascais do que viver em Mafra. Estas sucessões de maiorias absolutas têm sido terríveis para o concelho, o PSD põe e dispõe, neste momento o concelho parece um estaleiro, há obras em tudo o que é sítio, por que é que as obras ficaram para estes últimos meses? As pessoas têm de pensar. Pior, a quem é que a câmara adjudica estas obras? A câmara não diz, mas nós sabemos quais foram as empresas que ganharam as obras, e perguntamos, porque é que são sempre as mesmas? Não é só deus que sabe, há outras pessoas que também sabem, eu também sei. Não quer dizer que as pessoas não sejam competentes, mas há tanta gente aqui em Mafra que necessita de trabalho, mas são sempre os mesmos a ganhar. Temos condições para fazer o melhor em Mafra e queremos fazer o melhor
JM – O que é que será para si, um bom resultado nestas eleições?
RC – Eu nunca concorro para perder, concorro para ganhar. É difícil? É difícil devido a várias circunstâncias a que já me referi, hábitos, conjunturas, vícios, controlos, por isso sei que não será uma tarefa fácil. Quero contribuir para abanar esta estrutura que existe em Mafra há 40 anos. Bom resultado seria também, contribuir para que o PSD perca a maioria absoluta de que tem desfrutado no concelho. A população de Mafra tem nas mãos a possibilidade de não permitir mais que estas pessoas façam o que querem, a seu belo prazer, sem se justificarem a ninguém. Finalmente, um bom resultado será ainda aumentar o número de votos, e tenho a convicção de que isso irá acontecer. Tal como aconteceu a nível nacional com a geringonça, sem que então ninguém acreditasse, é necessária em Mafra, uma maquineta, que às tantas já devia ter sido feita em Mafra para alterar este estado de coisas. Não ando à procura de tachos, nem de ordenado, eu sou reformado da CGD, felizmente não preciso.